Antes de qualquer movimento feminista no ocidente, já tínhamos em todos os terreiros deste país a manifestação constante do simbolismo de uma verdadeira mulher completa, feminina e livre.
Feminina, inteligente, independente, segura de si, sensual, sem nenhum pudor ou medo de se expressar, a verdadeira mulher livre, em todos os sentidos possíveis e imagináveis. Elas não vestem branco, ou qualquer outra cor fria ou morna, mas o vermelho, cor do nosso sangue, representando a vida que pulsa em nossas artérias, energia, sensualidade.
São as Bombogiras (ou Pomba Gira como hoje são mais conhecidas), entidades espirituais que através de médiuns, se apresentam basicamente para dizer: Sou mulher, sou bonita, sou feminina e sensual, exijo respeito.
Faceiras, alegres, festeiras, desinibida e sem nenhum pudor, esta figura arquetípica veio (entre outras coisas) principalmente para mostrar para as mulheres que elas podem se expressar, serem sensuais e ao mesmo tempo sendo valorizadas, respeitadas, sem depender de homem pra nada, e sem nunca perderem a vaidade, feminilidade e sensualidade. Liberdade e independência total para a mulher, inclusive sexual.
Talvez nesse momento tenha algum leitor se perguntando: Mas elas não são prostitutas? Sei que muitos pensam e divulgam esta mentira, mas realmente elas não são, elas são simplesmente mulheres resolvidas, daquele tipo raro que os homens normalmente se sentem intimidados em sua presença, e que as mulheres feias, frígidas e/ou retraídas sentem inveja e ódio.
Mas assim como a figura de Maria Madalena foi transformada em prostituta pela opinião pública (mesmo sem haver nenhuma passagem nos evangelhos que indicassem qualquer coisa parecida), as "Damas da Noite" também foram com o tempo sendo erroneamente interpretadas como tal, possivelmente para que sua imagem fosse denegrida e ignorada pela grande maioria.
Não devemos esquecer que vivemos em uma cultura muito influenciada pelas tradições Hebraicas (Judaico/Cristã), que são estritamente patriarcais, onde a mulher sempre foi vista como inferior e portanto deveria permanecer obediente, submissa e isenta de pensamento próprio, renegando suas ambições, desejos e vontades. Este fato não é hipotético, é histórico, a mulher independente nos últimos séculos era perseguida, humilhada, estuprada e torturada pela "Santa Igreja", sobre a acusação de bruxa (ler sobre a caça as bruxas).
Portanto, qualquer mulher que queira se libertar do "regime" patriarcal no qual estamos ainda inseridos, é vista ou como prostituta ou como bruxa. Isso acontece porque no ocidente o modelo ideal de mulher "pregado" pela grande maioria (e pelas igrejas) é como a água, insípida, inodora, incolor, ou seja, mulher sem feminilidade, reprimida, com vergonha de sua sexualidade ou inibida, "vinculada" ao homem (marido).
A mulher livre, independente, tanto financeiramente quando psicologicamente, que não precisa estar "vinculada" através de matrimônio a um homem, que mantém sua feminilidade, sensualidade e beleza, utilizando estes atributos ao seu favor, não é bem vista "por aqui". Pense na mulher que possui uma vida sexual ativa, mas não é dependente a um homem, ou seja, aquela que você costuma chamar de promíscua, ou "vadia".
Sendo a Bombagira o extremo da liberdade feminina, a mulher que não depende do homem para absolutamente nada, totalmente auto-suficiente, livre para ir e vir como bem entender, expressando tanto sua sensualidade quanto a sexualidade, exibindo sua beleza e vaidade, foi taxada tanto de prostituta como bruxa, quando na verdade trata-se somente de uma mulher completamente liberta da dependência masculina.
Mas será que ela é perigosa? Sim, claro que é. Ela mete medo? Com certeza, assim como qualquer mulher totalmente livre e independente. Porque? Porque elas são lindas, poderosas e sensuais.
A Bombagira sabe que a mulher pode ter qualquer homem na palma da mão, basta saber usar seus "atributos" femininos, sua sensualidade, beleza, inteligência, etc. As Rainhas da Noite sabem que a mulher é a dona do mundo, elas que fazem girar a economia e poderiam comandar nossa sociedade, caso não fossem as limitações impostas, principalmente pela cultura e molde religioso vigente (Patriarcal e autoritário).
Por todos esses motivos que eu digo e repito, a Pomba Gira é sim a primeira das feministas, não aquele tipo de feminista que acaba ficando "masculinizada" (para tentar se parecer com os homens), mas aquela outra, que sem descuidar da aparência, usando charme, beleza e malícia, faz os corações tremerem e pode coloca qualquer homem aos seus pés (literalmente).
É a mulher em sua mais alta expressão, totalmente livre, extremamente feminina, vaidosa, de gosto apurado, inteligentes, felizes e exigentes. Por isso chamamos elas de Rainhas e Damas, porque são Damas no comportamento e Rainhas de si mesmas, não se submetendo a ninguém.
CAMOS