A natureza é dual... eu já usei esta afirmação em tantos textos que até já perdi a conta. Porém não tem jeito, o entendimento deste princípio é necessário para atingir o discernimento em diversas outras questões, pois são derivadas deste fator.
Esta lei universal é tão presente, tão evidente, que se torna difícil compreender como ainda tem gente que não conseguiu "absorver" este conceito. O átomo é dual (possui carga positiva e negativa), a eletricidade, os gêneros (macho e fêmea), nossa simetria bilateral (dois braços, duas pernas, etc.), e por aí vamos..
Até nosso cérebro, tem dois hemisférios. E não pensei que é um a cópia do outro, não, ambos são opostos e complementares. Enquanto o hemisfério esquerdo trabalha o raciocínio objetivo, concreto, o direito é responsável pela nossa capacidade de abstração, a arte, a música, a subjetividade, etc.
Depois de toda essa introdução, é que nós chegamos no assunto em questão, a Umbanda e suas duas linhas, a da esquerda (Exus e Pomba Giras ou Bombogiras) e a da direita (demais guias espirituais e entidades). E a pergunta do título do post é: Será a linha da esquerda inferior a linha da direita?
Respondendo a pergunta com outra pergunta: Você tem dois braços, será seu braço esquerdo inferior ao braço direito? Algumas pessoas tem maios habilidade no braço direito (destros) enquanto outros tem maior destreza no esquerdo (canhotos), porém ambos são necessários para a realização da maioria das atividades humanas, qualquer um que faltar, certamente fará muita falta para o indivíduo.
O mesmo ocorre com a espiritualidade, ela possui dois braços, ou melhor dizendo, duas vias evolutivas. Na Umbanda, as entidades espirituais que se manifestam através dos médiuns (os guias espirituais), quando pertencem a uma via evolutiva, dizemos que pertencem a linha de esquerda, quando pertencem a outra, dizemos que são da linha da direita. Estes são os dois braços da Umbanda, nenhum é superior ou inferior ao outro, ambos tem a mesma importância o mesmo poder, pois são opostos que se complementam.
Estaria eu afirmando que os Exus e as Pomba Giras podem ser tão evoluídos quanto qualquer outro guia espiritual? Sim, é exatamente isso.
Este é certamente o ponto mais importante do texto, pois eu sei que a grande maioria dos umbandistas, acredita que o Exu é um ser em evolução, que um dia será um guia espiritual (quando evoluir), etc. Saibam todos, estejam cientes, que isto é uma grande mentira, uma confusão, ou fantasia dos umbandistas (estou para escrever um texto com este título, "fantasias dos umbandistas", pois realmente são várias...).
Mas então o Exu não é um ser em evolução? Claro que é... ele está sim evoluindo, assim como eu estou, assim como você e como qualquer outro guia espiritual de qualquer outra linha está, de certa forma estamos todos no mesmo "barco". Agora, o Exu é um ser de evolução inferior aos demais guias espirituais? De forma alguma, não necessariamente.
Obviamente há vários níveis de evolução dentro das linhas de esquerda, há (como sabemos) hierarquias entre os Exus, obviamente há Exus mais evoluídos, e também há os que estão em "início de carreira" como guardiões do astral. A questão é que essas hierarquias se igualam a linha da direita, onde ocorre exatamente o mesmo. Portanto podem haver Exus mais evoluídos que os demais guias que se manifestam em um terreiro, mas ele sempre se manifestará na linha de esquerda, pois este é o "caminho" evolutivo dele.
Então quer dizer que os Exus não foram marginais em outras vidas? E as Bombogiras não foram garotas de programa? Bom, talvez tenham realmente sido... assim como talvez você tenha sido um pedófilo ou serial killer, e sabe se lá mais o que, assim como eu posso ter sido, como qualquer outra pessoa encarnada, ou mesmo um guia espiritual pode ter sido, afinal tivemos milhares de encarnações, como poderemos saber?
Mas não, Exus e Bombogiras não são marginais e muito menos depravados, os marginais do astral são os Kiumbas (que frequentemente se passam por Exus, enganando médiuns, sacerdotes e consulentes em inúmeros terreiros). Exus e Pombagiras só são "diferentes", como eu já falei, devido a sua "via evolutiva". Entenda leitor, eu não intentei essas duas linhas evolutivas, há outros autores que também se referem a ela, como Osho, para citar um. Se trata do desapego, e do viver intensamente, dois caminhos opostos, mas ambos (cada um a sua maneira) fazem o ser evoluir.
Na Umbanda, aqueles que seguiram a via do desapego, acabam se tornando o que chamamos de guias espirituais da direita, os que optam pelo "viver intensamente", pertencem a linha de esquerda. Nenhum é superior ao outro, ambos cumpriram seu papel evolutivo, porém cada um a sua maneira.
Para o Exu, não há mistérios quanto a vida humana, pois ele já viveu tudo (ou quase tudo) que poderia viver. É por isso que sua forma de manifestação faz alusão as "coisas da vida", porque ele é um "amante da vida", ele ama a vida em todas as suas facetas. Entenda, para nós o Exu é um mistério, ele é o grande arcano da espiritualidade... agora para o Exu, não há nada em nós que ele desconheça, nada que possamos fazer que o surpreenda, pois para eles somos como crianças, vivendo o que eles já viram.
Outro texto que eu estou pensando em escrever é o de "etiqueta na espiritualidade", onde eu abordarei (obviamente de maneira irônica) a questão da maioria acreditar que "quanto mais comportada a entidade", quanto mais "fala mansa" ela tiver, mais evoluída é a criatura. Ilusões, fantasias... entidades guerreiras são mais agitadas, entidades de curas, costumam ser mais calmas... o que não é uma regra, pois se o curandeiro for indígena ou africano, certamente irá se movimentar, quem sabe até "dançar" e ou gritar durante a gira.
Não é a aparência que indica o grau evolutivo de uma entidade, mas a profundidade da sua mensagem e o trabalho que ela realiza. Exus e Bombogiras sempre serão alegres, faladores, e usarão linguagem coloquial, pois eles (mais que os outros guias) não estão nem um pouco preocupados em causar boa impressão, ou em "serem aceitos".
Eles não tem nenhuma necessidade de "pompa", pois são as entidades espirituais mais "informais" de todas, em um tratamento direto com o consulente, onde este se sente a vontade para contar para os "cumpadres e as cumadres", tudo aquilo que muitas vezes não ousaria revelar nem mesmo para seus parentes ou amigos mais próximos, pois sabem que não haverá nenhum julgamento ou condenação, somente uma conversa franca de "amigo para amigo".
Entendam, eles não precisam de nós, para nada, nós é que muitas vezes precisamos deles, pois como já foi dito muitas vezes, na Umbanda:
"Sem Exu não se faz nada".
Laroiê Povo da Rua, Saravá aos donos da noite...
CAMOS